Monte Roraima: Subindo ao Topo do Mundo Selvagem

Imagine-se em pé sobre rochas com 2 bilhões de anos, onde nuvens dançam ao seu redor e o horizonte se estende por três países simultaneamente. Bem-vindo ao Monte Roraima, um colosso de arenito que se eleva a 2.810 metros acima do nível do mar, na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana.

Não é apenas uma montanha – é uma ilha no céu, um dos lugares mais antigos e misteriosos do planeta. Enquanto os dinossauros ainda nem existiam, o Roraima já estava lá, imponente, moldado por bilhões de anos de vento e chuva. Este gigante de topo plano, conhecido como tepui pelos povos indígenas locais, guarda segredos que poucos têm o privilégio de desvendar.

 

História e Mitologia

“Roroi-ma” significa “grande, verde e azul” na língua dos Pemon, povo indígena que habita a região. Para eles, o Monte Roraima não é apenas uma formação geológica, mas a “Mãe de Todas as Águas” – o berço dos rios que alimentam a vida na Gran Sabana.

Os Pemon acreditam que o tepui é a morada de Makunaima, o deus criador. Segundo suas lendas, foi do topo do Roraima que surgiram todos os frutos e plantas que alimentam a humanidade. Quando as nuvens encobrem seu cume, dizem que Makunaima está fumando seu cachimbo, contemplando sua criação.

Não é de se admirar que Sir Arthur Conan Doyle, ao ouvir relatos sobre este lugar surreal, tenha se inspirado para escrever “O Mundo Perdido” em 1912, imaginando dinossauros e criaturas pré-históricas isoladas no topo inacessível.

 

Geografia e Formação Geológica

O Monte Roraima é parte de uma formação geológica conhecida como Escudo das Guianas, uma das estruturas mais antigas do planeta. Sua idade estimada? Impressionantes 2 bilhões de anos – cerca de metade da idade da própria Terra.

Com paredes verticais de até 400 metros de altura e um platô de aproximadamente 31 km², o topo do Roraima é um mundo à parte. A erosão esculpiu formações rochosas bizarras que parecem saídas de outro planeta: labirintos de pedra, vales profundos e piscinas cristalinas.

O clima no topo é imprevisível e extremo. Em questão de minutos, o sol escaldante pode dar lugar a uma neblina densa ou a uma tempestade furiosa. A temperatura varia de 2°C a 20°C, criando um microclima único que moldou a evolução das espécies que ali habitam.

 

Biodiversidade Única

Isolado por milhões de anos, o topo do Roraima tornou-se um laboratório natural de evolução. Cerca de 70% das espécies encontradas lá são endêmicas – não existem em nenhum outro lugar do mundo.

Entre as maravilhas botânicas, destacam-se as droseras e heliamphoras, plantas carnívoras que desenvolveram estratégias únicas para sobreviver em solo pobre em nutrientes. Orquídeas raras florescem entre rochas aparentemente estéreis, e musgos milenares formam tapetes macios que absorvem água como esponjas gigantes.

A fauna não é menos impressionante: o sapinho-arlequim (Oreophrynella quelchii), que não pula, mas caminha como um pequeno urso; lagartos negros que parecem dragões em miniatura; e uma infinidade de insetos ainda não catalogados pela ciência.

 

Como Chegar ao Topo do Mundo Selvagem

A rota tradicional para o Monte Roraima começa em Santa Elena de Uairén, na Venezuela, a aproximadamente 215 km da fronteira com o Brasil. De lá, segue-se para a pequena aldeia de Paraitepui, onde começa oficialmente a trilha.

A jornada completa leva em média 6 dias (ida e volta), sendo 2 dias de caminhada pela savana da Gran Sabana, 1 dia de ascensão pela “rampa” (único ponto escalável sem equipamentos técnicos) e 2 a 3 dias explorando o topo antes do retorno.

Importante: a expedição só pode ser realizada com guias credenciados, que custam entre US$ 100 e US$ 150 por dia para grupos de até 5 pessoas. A taxa de entrada no Parque Nacional Canaima é de aproximadamente US$ 30 por pessoa.

O melhor período para a aventura é durante a estação seca, entre dezembro e abril, quando os rios estão mais baixos e as trilhas menos lamacentas. Mesmo assim, prepare-se para enfrentar condições climáticas desafiadoras – não é incomum experimentar as quatro estações do ano em um único dia no Roraima.

Lembre-se: esta não é uma trilha para iniciantes. A distância total percorrida chega a 80 km, com desníveis significativos e terrenos acidentados. Um preparo físico adequado e equipamentos de qualidade são essenciais para transformar este desafio em uma das experiências mais marcantes de sua vida.

 

Quem já esteve lá afirma: pisar no topo do Monte Roraima é como visitar outro planeta sem sair da Terra. É uma jornada não apenas geográfica, mas também interior – um encontro com a grandeza da natureza e a pequenez humana diante da imensidão do tempo geológico.

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